Hoje não irei fazer um resumo do livro que li, mas trazer para vocês uma passagem que me fez ficar ainda mais interessada em sua leitura, que o próprio livro trás. Além é claro do comentário feito pelo meu Pai antes de me entregar o livro: "o livro é interessante não só pela história, mas porque a vivemos e as pessoas do livro existem, viveram tudo aquilo e será um conhecimento para você do que aconteceu na época".
"Com persistência rara, para o Brasil, 68 ainda povoa o nosso imaginário coletivo, mas não como objeto de reflexão. É uma vaga lembrança que se apresenta, ora como totem, ora como tabu: ou é a mitológica viagem de uma geração de heróis, ou a proeza irresponsável de um "bando de porralocas", como se dizia então.
Na verdade, a aventura dessa geração não é um folhetim de capa e espada, mas um romance sem ficção. O melhor do seu legado não está no gesto - muitas vezes desesperado; outras, autoritário -, mas na paixão com que foi à luta, dando a impressão de que estava disposta a entregar a vida para não morrer de tédio. Poucas - nem a efêmera geração dos caras-pintadas - lutaram tão radicalmente por seu projeto, ou por sua utopia. Ela experimentou os limites de todos os horizontes: políticos, sexuais, comportamentais, existenciais, sonhando em aproximá-los todos.
Sem dúvida, há muito o que rejeitar dessa romântica geração de Aquário - o messianismo revolucionário, a onipotência, o maniqueísmo -, mas há também muito o que recuperar de sua experiência.
Os nossos "heróis" são os jovens que cresceram deixando o cabelo e a imaginação crescerem. Eles amavam os Beatles e os Rolling Stones, protestavam ao som de Caetano, Chico ou Vandré, viam Glauber e Godard, andavam com a alma incendiada de paixão revolucionária e não perdoavam os pais reais e ideológicos - por não terem evitado o golpe militar de 64. Era uma juventude que se acreditava política e achava que tudo devia se submeter ao político: o amor, o sexo, a cultura, o comportamento.
Uma simples arqueologia dos fatos pode dar a impressão de que está é uma geração falida, pois ambicionou uma revolução total e não conseguiu mais do que uma revolução cultural. Arriscando a vida pela política, ela não sabia, porém, que estava sendo salva historicamente pela ética.
O conteúdo moral é a melhor herança que a geração de 68 poderia deixar para um país cada vez mais governado pela falta de memória e pela ausência de ética."
Tem como deixar de ler??.